domingo, 5 de maio de 2013

O poder da nossa razão

Vivemos num barril de pólvora e, independentemente das nossas pessoais depressões e das pequenas angústias quotidianas que nos assaltam, parece não atentarmos, com seriedade, na natureza do problema. A nova crise do capitalismo agudiza-se sem complacência, e os seus turiferários não param de o elogiar. Inexiste um estudo profundo e rigoroso esclarecedor do “estado a que isto chegou.” Entrou-se, de novo, nos territórios da “banalidade do mal”, extensivo a todos os sectores (sem excepção) das sociedades. Hannah Arendt referia-se às características maléficas dos totalitarismos, e sobre o assunto escreveu, pelo menos, dois magnos tratados. Judia, antinazifascista e campeã da causa da liberdade, foi, ela própria, um exemplo da “contradição elementar”: amantizou-se com Heiddegger, seu professor, membro activo no partido nazi – e um dos maiores filósofos de sempre. É evidente que o capitalismo está em acentuado declive; mas daí até ao seu fim vai uma imponderável distância. Essa evidência arrasta consigo outra evidência: não surge nenhuma alternativa e, aliás, ninguém manifesta o mais ténue interesse em combatê-lo, a não ser em termos de retórica. Essa retórica, porém, não ultrapassa os seus limites e é cediça, anacrónica, baseada nas linhas tradicionais dos finais do século XIX. A “banalidade do mal” também advém dessa preguiça mental e dessa inércia especulativa que não consegue ser o que Marx desejava: ser dialéctica. Já dois homens de Direita, Raymond Aron e Jean-François Revel, assinalaram o vácuo filosófico e a deficiente interpretação dos textos do autor da “Crítica do Programa de Gotha”. Tanto Aron quanto Revel, com o rolar dos anos, resvalaram para um reaccionarismo sem saída. Hoje, são relíquias que os movimentos mais retrógrados vão recuperar no sótão das velharias. A Esquerda não expõe alternativas à crise, e a Direita, como seu reflexo, é um realejo de remotos autores. Com a queda do Muro de Berlim, tanto a Esquerda como a Direita ficaram desempregadas. E, para “salvar” o capitalismo, os governos (responsáveis pelo descalabro) recorrem às nacionalizações, expediente do breviário socialista. A verdade é que não se vêem soluções à vista. A génese da crise é diversa, confusa e, até agora, inexplicada. A tempestade que varreu, mundialmente, o mundo da finança não tem uma só origem. E como ninguém sabe, rigorosamente, onde está o busílis, também ninguém conhece o remédio para a cura. As decisões até hoje tomadas são meramente ocasionais, o que alimenta a tragédia do desemprego generalizado e, por consequência, a previsível agitação social, cujas consequências são imponderáveis. Não digamos que tudo está em aberto: na realidade, tudo parece hermeticamente fechado. Nenhum governo se atreve a formular o mais ténue discurso optimista, pelo contrário: carregam na nota e advertem-nos de que temos de fazer sacrifícios inauditos. “Este será o pior ano para a economia, desde o final da Segunda Guerra Mundial”, esclarecem graves instituições internacionais. Autor: Baptista Bastos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário