quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Zeitgeis (Espírito do Tempo).

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Malhado, Maxim (1967)

Críticas
"Em seu escrito Inside the White Club, Brian O'Doherty, já em 1976, criticava o mito da neutralidade do espaço dos museus e galerias, do cubo branco, que aparece como sinônimo de uma arte norte americana/européia, que elimina todas as diferenças sociais, sexuais, religiosas, étnicas, em nome de uma autonomia estética e de uma linguagem formal universal, omitindo, assim, as condições em que se originou a arte. O espaço da galeria tinha que ser branco e limpo, para que ficasse livre de toda e qualquer experiência, que não a estética. No cubo branco, ao se despirem as obras de arte de sua historicidade, negou-se à arte o direito de participação na construção da realidade.
Sobre o pano de fundo da crítica ao cubo branco, artistas vêm, desde os anos setenta do século passado, fazendo das condições sob as quais a arte é produzida e distribuída o tema de sua arte. Assim, surgiu, no contexto dos debates sobre a apresentação da arte no cubo branco, a noção de que a estética e as instituições que a alojam são, elas próprias, parte da problemática da modernidade. Da modernidade, surgiu a modernidade crítica, que trouxe de volta para o cubo branco todos os contextos econômicos, ecológicos e sociais que dele haviam sido eliminados, possibilitando, assim, um retorno do real à arte. Com Lyotard, pode-se chamar a crítica ao cubo branco de pós-moderna, se com isso se entende o 'aprofundamento' da modernidade.
A crítica radical de Maxim Malhado é evidente. Ele rejeita o princípio ordenador do cubo branco. A sala de exposições não serve, aqui, como espaço da bela aparêcia, mas é a tela onde se projeta uma realidade construída, que se entende frágil, incompleta e em curso.
Malhado utiliza formas de expressão que o fascinaram no interior da Bahia: desenhos aparentemente sem método, para não dizer banais, feitos a giz em paredes de casas abandonadas, são por ele transportados para o ambiente urbano da sala de exposições e aplicados diretamente na parede. Sem molduras, sem estetizações que pudessem dar suporte à pretensa obra de arte. Ele mostra as coisas como elas são. No entanto, ao deslocar o contexto de origem para o espaço da galeria, ele faz com que o olhar do visitante se volte para a poesia nua do quotidiano. Coerentemente, ele desenvolve textos que devem ser entendidos menos como comentários, e mais como paráfrases das coisas reais.
Também com o segundo trabalho, Sobressalto, ele alcança uma insistência desconcertante. Um espaço que, a princípio, dá a impressão de ser intransitável, nega-se a fazer sentido. A instalação, semelhante a um canteiro de obras, torna-se acessível apenas quando o visitante transforma-se em participante, passando a explorar o novo espaço. A experiência física do labirinto, do estar-perdido no espaço, baseia-se no princípio criador do deslocamento: 'o corpo - a casa' - o confronto entre o indivíduo e a representação social, corpo e espaço, organismo e história construída - novamente, são o diálogo e a contradição que constituem o tema central deste trabalho".
Peter Anders - Diretor do Goethe Institut de Salvador, Bahia
ANDERS, Peter. [Texto de apresentação]. In: MALHADO, Maxim. Intermédio. Salvador: Instituto Cultural Brasil Alemanha, 2001. folha dobrada il. p&b. color.

"Enfim liberta da pesquisa formalista e da temática auto-referencial, a arte contemporânea permite aos seus artistas restabelecer os liames com a História, e discutir aspectos relacionados com os costumes e a cultura humana. Assim, a sexualidade, a ciência e a fé readquirem a sua importância no contexto da arte, fazendo com que se crie uma espécie de poética do sensível que mesclatécnicas e informações que refletem a perplexidade das ideologias e a inquietude do ser dos dias atuais. Com a crise das ideologias, cabe a arte resgatar o papel das utopias: o legado modernista, de indiscutível importância, indica-nos o caminho da razão como instrumento mais eficaz de superação da crise. A velocidade da informação e a globalização da cultura eliminou antigas referências sobre o centro e a periferia, criando uma diferente geografia onde cada núcleo carrega a sua própria marginalidade, metáfora de uma urbanidade que reflete cada dia mais a injustiça social de um sistema desprovido de sentido ético e caráter humanitário.
É nesse contexto conturbado do contemporâneo que a produção de Maxim Malhado se insere: as suas instalações aludem à religião, aos objetos de culto, aos tótens e, por extensão, à sexualidade e à perversão que pode ser encontrada nas garatujas infantis e no grafismo que revela uma poética de pequenas crueldades e doces belezas. Há, latente nas suas obras, uma espécie de apelo à ordem, uma organização formal que se realiza através da modulação e do ritmo. Extremamente gráfica, a obra de Maxim Malhado, em qualquer suporte, em qualquer técnica, aspira a uma espécie de serenidade atemporal, compreendendo a arte como atividade de essência do ser. Suas linhas, suas ripas, seus labirintos são metáforas de intrincado e surpreendente jogo em que se unem sensibilidade e inteligência, rigor e paixão".
Marcus de Lontra Costa
Recife, fevereiro de 2001
COSTA, Marcus de Lontra. Estranha Geografia. In: MALHADO, Maxim. Intermédio. Salvador: Instituto Cultural Brasil Alemanha, 2001. folha dobrada il. p&b. color.